Sair da zona de conforto é o primeiro passo para a superação. Parece máxima clichê, não é mesmo? Mas apesar de dita e escrita tantas vezes, poucos conseguem vivenciar o sabor da vitória de uma transformação que depende unicamente de uma decisão pessoal. Esse post é pra falar pouco daquilo que ouvimos dos nossos alunos no período em que eles se inscrevem até o dia em que vamos nos encontrar para o primeiro dia de aula.
É uma avalanche de ansiedade. Eles chegam com medo de cobra, de onça, de escuro, medo de regras, falta de jeito, medo de inseto, medo dos outros. Todo esse turbilhão de sentimentos tem justificativas, afinal sair de um ambiente onde é possível ter controle de quase tudo e ir para um lugar onde não se tem controle de quase nada, provoca muitos sentimentos. Eu estou preparado para lidar com todos eles.
O primeiro desafio que tenho como instrutor no Curso de Documentação e Comportamento em Selva é desmistificar todo imaginário sobre o que é trabalhar em ambientes selvagens. Mitos e lendas são alimentados diariamente por filmes, programadas de televisão ‘deseducadores’ e até mesmo por herança familiar. Confesso que é um grande luta, mas tenho tido êxito em mais de 97% dos casos. Nos 3% que restam, há aqueles que preferem ficar na escuridão do medo por achar que ali é um lugar confortável e seguro.
O segundo desafio é transformar esse medo em conhecimento. Iluminar essa lacuna com informação e instruí-los de que é possível realizar todas as atividades de forma segura, desde que o seu medo e os seus limites sejam respeitados. A superação do medo transforma as pessoas. É como subir um degrau da vida, onde você vê o mundo de um andar mais alto, acima das nuvens que desnorteiam o conhecimento.
Não ache que pra participar da minha vivência você precisa de um ‘puta’ equipamento fotográfico ou ser o Indiana Jones da selva. Nem sempre quem tem experiência ou a melhor câmera fotográfica tem o melhor êxito. Não é isso que determina a atuação de um aluno em campo, mas a sua disposição em aprender e reaprender consigo mesmo a partir dos desafios. Já recebi alunos com mais de 60 anos, obesos, com doenças como fibromialgia, diabetes, epilepsia e todos eles superaram o primeiro e um dos principais medos – o de sair de casa. Quantos em melhor condição física desejaram e logo em seguida deixaram o medo tomar conta das suas decisões?
Já dizia Darwin, ‘não é o mais forte nem o mais inteligente, mas aquele que se adapta melhor as mudanças’. Transforme 2016 em um ano de superação. Saia do sofá e encare o mundo de frente. Seja na selva, na vida pessoal ou profissional. Não vale a pena deixar que o medo seja o genocida de todas as emoções que você pode viver. Tome as rédeas da situação e esteja consciente de que um enfrentamento como esse não é fácil, mas é um divisor de águas... muita gente te espera do outro lado do rio.
Fernando Lara é documentarista de natureza e fundador da Rotas Verdes Brasil